Plataforma digital

Apresentação e Histórico

O conceito de museu virtual é relativamente novo na museologia e surgiu a partir da década de noventa do século XX. Antes disso, o uso da Internet estava restrito ao ambiente acadêmico. De 1994 em diante, com a disseminação da Internet comercial, os museus passam a explorar o ambiente virtual, criando novas perspectivas na apresentação de seu acervo (HENRIQUES, 2004).

Desde sua criação, o Museu da Pessoa foi concebido para ser um museu virtual de histórias de vida. O acesso a todo o conteúdo sempre se deu via internet, através do “real” endereço do museu.

O site inicial do Museu da Pessoa, lançado em abril de 1996, pouco diferia da política de atuação dos primeiros sites na web: não passava de uma página institucional para divulgar o trabalho realizado pela Instituição. A home era repleta de links e redirecionamentos para outras páginas e informações em texto predominavam. 

Já em 1997, com o avanço da internet, no Brasil e no mundo, e a visão cada vez mais clara de que seu uso significava uma mudança profunda e irreversível de paradigma, o Museu da Pessoa optou por abrir ao usuário a possibilidade de registrar sua própria história. Foi iniciada, então, a primeira versão da seção Conte sua História, cuja função era incentivar os leitores a participar criando novos conteúdos para o site. Logo em seguida, em 1998, este site foi considerado pelo New York Times uma das iniciativas mais inovadoras em Museus em todo o mundo.

Página principal da primeira versão do site do Museu da Pessoa (1996)

O maior problema que se evidenciava naquele momento era a ausência de uma base de dados que desse suporte ao acervo, o que possibilitaria não só a organização do material, mas principalmente uma busca mais refinada no conteúdo. Assim, em meados dos anos 2000, teve início um processo de revisão do papel da instituição como museu e uma preocupação com a articulação de iniciativas, para que as histórias se conectassem e servissem como um eixo mobilizador de grupos sociais diversos. 

Ciente destas necessidades, em 2008 o Museu da Pessoa passou a priorizar duas atividades: a reorganização da plataforma digital, revendo as ferramentas de interatividade, e um diagnóstico detalhado de todo o conteúdo produzido até então. A partir daí o museu aprofundou o uso de seu próprio acervo na criação de coleções temáticas e na mobilização dos usuários. 

Em 2014 foi lançada oficialmente a ferramenta “Monte sua Coleção”, permitindo ao usuário compor sua própria coleção de histórias assim como usar a plataforma para colocar acervos próprios organizando as entrevistas em coleções. Tais processos desembocaram, também, na implementação da responsividade (adequação de tela e elementos de usabilidade para dispositivos móveis), com funcionamento no início de 2016.


Home da plataforma digital do Museu da Pessoa (2016)

Versão mobile da plataforma digital do Museu da Pessoa (2016)

A plataforma digital – entendida e encarada como o museu em si –  hospeda, então, os depoimentos que fazem parte do acervo e possibilita que o usuário/leitor navegue online por seu conteúdo, conhecendo de maneira aprofundada cada entrevista, que pode ser composta por textos, vídeos e imagens. Seu caráter colaborativo, uma de suas características mais acentuadas, permite que qualquer pessoa passe da posição de espectador, visitante, para tornar-se um colaborador, enviando histórias de vida e criando coleções com seus temas de interesse.

Assim, pode-se dizer que o Museu da Pessoa trabalha o patrimônio imaterial, por meio das ações museológicas, num espaço virtual. Dinâmica tal que lhe permite estar “aberto” 24 horas, divulgando as histórias de vida e também possibilitando a interação do público com este acervo, seja lendo histórias, contando histórias ou montando coleções temáticas.

Editorial

A plataforma digital, além de funcionar como base de dados do acervo, atua como um “espelho” de todas as produções e atividades que envolvem o Museu da Pessoa. Segue-se uma lógica na qual os conteúdos atualizados e destacados, na home e nos banners do slider, podem ser divididos da seguinte forma: notícias institucionais (cursos, eventos, marcos, conquistas, projetos), histórias e coleções criadas pelos internautas, coleções feitas com curadoria do Museu da Pessoa acerca de algum tema e/ou resultantes de algum projeto específico, novas parcerias (com instituições, ong´s, coletivos, veículos de mídia, etc) e vídeos em destaque, com redirecionamento para o Youtube, visando aumentar o tráfego neste canal. Os vídeos no canal de Youtube do museu são editados em no máximo 3 minutos e organizados em listas temáticas. Atualmente são mais de 1800 vídeos curta metragem disponíveis para acesso, criados a partir das entrevistas presente no acervo. 

Já o Facebook é a principal rede social de atuação do Museu da Pessoa, com maior alcance e engajamento dos usuários. Nela, ocorre um espelhamento do que é destacado no plataforma digital, mas a disseminação de histórias de vida e coleções geralmente vêm atrelada a datas comemorativas, projetos realizados, ganchos com “notícias do momento”. É também o espaço onde o museu se posiciona perante debates políticos, sociais, culturais, etc). A estratégia de publicações está baseada em vídeos curtos e teasers que garantem maior visualização e, consequentemente, compartilhamento de conteúdo, auxiliando na tarefa de expansão do público do museu.

Exemplo de post na página do Museu da Pessoa no Facebook (2016)

O Instagram, por outro lado, é a rede com utilização mais recente por parte do museu (segundo semestre de 2015). A decisão pelo ingresso na plataforma deu-se pela vontade de tornar cada vez mais conhecido o seu rico acervo iconográfico. Em linhas gerais, as postagens do Instagram acompanham as campanhas realizadas na plataforma digital e demais redes sociais, como divulgação de coleções temáticas, por exemplo. Quando não há campanhas em curso, as publicações alternam imagens de acervo e assuntos que estão em pauta na sociedade.

Exemplo de post do Museu da Pessoa em seu perfil no Instagram (2016)

Ferramentas colaborativas: Conte Sua História e Monte Sua Coleção

A principal ferramenta colaborativa do Museu da Pessoa é a Conte Sua História. Através dela o usuário, após realizar um cadastro e confirmar estar de acordo com termos de licença de uso, pode contar sua própria história ou mesmo a de seus familiares, amigos e conhecidos. É possível ainda atrelar fotos e vídeos ao texto criado e o autor pode sempre retornar à história para acrescentar outras partes ou mesmo editar o conteúdo já presente. É importante ressaltar que o conteúdo gerado pelos visitantes através deste instrumento já ultrapassa, e muito, aquele produzido pelo próprio Museu da Pessoa através de seus projetos de memória. Pode-se dizer então que os usuários já são os maiores responsáveis pela produção do conteúdo presente na plataforma digital.

A plataforma também permite que os usuários, além de registrarem suas histórias, possam atuar como curadores utilizando o acervo para comporem suas próprias coleções. Ancorado por uma ideia de produção e curadoria colaborativa, o Museu da Pessoa apostou na criação da ferramenta Monte sua Coleção como uma maneira do visitante se apropriar ainda mais das histórias de vida, relegando novos significados e leituras a elas. Uma coleção é uma espécie de agrupamento, uma junção de histórias, imagens e vídeos ligadas por um tema, recorte, abordagem em comum. Em outras palavras, “um álbum de figurinhas” com um conteúdo selecionado. 

O usuário pode, portanto, estender sua colaboração ao se tornar um curador que monta coleções com material do acervo do Museu da Pessoa ou com o acervo criado por ele. Para isso, basta realizar uma busca e encontrar um conteúdo relacionado aos temas que são de seu interesse: histórias de amor, fotos de casamentos, vídeos sobre futebol etc. As possibilidades e combinações são infinitas. Não há um número exato de entrevistados (ou itens como história, vídeo, imagem) para compor uma coleção e a elaboração e reelaboração da mesma pode ser contínua, de acordo com as pesquisas dentro do acervo. A coleção não é uma amarra e as histórias de vida, justamente por suas singularidades, sempre transparecem novas situações e reflexões. 

O acervo produzido pelos usuários é bastante diversificado, atrelando textos, vídeos, fotografias, entre outros documentos. Estes materiais passam a ser potenciais conteúdos para serem trabalhados pela equipe do museu em campanhas de divulgação na plataforma digital ou redes sociais. Só no ano de 2017, o Museu da Pessoa recebeu cerca de 354 histórias de vida e 51 coleções criadas por usuários a partir das histórias e imagens presentes na plataforma digital. Estes dados explicitam a atuação dos usuários como verdadeiros colaboradores, produzindo conteúdos e se apropriando do acervo de histórias de vida com finalidades diversas.

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