Programa Educativo

2.4.1 Apresentação

A criação da área educativa do Museu da Pessoa nasce com a visão de que toda pessoa, grupo ou comunidade ser produtora, guardião e disseminador de narrativas de vida. 

A metodologia foi sistematizada em uma Tecnologia Social de Memória que permite que indivíduos, instituições e grupos sociais diversos componham suas próprias memórias a partir de suas histórias de vida.

A memória de indivíduos e de grupos é a base para a construção da identidade e para o desenvolvimento de reflexões que possibilitam o viver presente e futuro. As narrativas de vida resultam das formas com que cada indivíduo articula e dá significado às suas experiências. São, nesse sentido, um ponto de encontro entre o tempo histórico comum e a singularidade de cada um. Nessa perspectiva, a tecnologia social da memória vem para auxiliar indivíduos e grupos a registrar de forma organizada e a preservar suas memórias, contribuindo, consequentemente, para o fortalecimento de suas identidades.

2.4.2 Por que memória oral em um contexto educativo?

Cada sociedade possui um repertório daquilo que encara como sendo o saber. Cada sociedade tem também uma determinada forma de sistematizar e transmitir este saber. Dentro da escola, a História é uma das disciplinas que cumpre esta função. Por meio dos conteúdos aprendidos ao longo dos anos, os alunos vão incorporando sistemas de pensamento, valores e constituindo uma memória comum. E, por mais que acreditemos que os conteúdos referem-se ao passado, as narrativas históricas escolares são formas de moldar o presente, de criar, além de uma memória coletiva, o sentido de pertencimento e coesão social.

Neste sentido, a escola é o ambiente mais adequado para construir novas percepções da sociedade e se trabalhar a construção e a transformação de valores que perpetuam e/ou mudam a dinâmica social. Mas que valores e percepções um programa como este pode transformar?

As narrativas de vida resultam das formas com que cada indivíduo articula e dá significado às suas experiências. São, neste sentido, um ponto de encontro entre o tempo histórico comum e a singularidade de cada um. A entrevista – realizada na escola por um grupo de alunos de uma única pessoa- provoca uma conexão bastante profunda entre entrevistadores e entrevistado. Ao longo destes anos não paramos de nos maravilhar com os inúmeros desdobramentos que este contato provoca nos alunos, professores e em toda comunidade. Alguns dos principais impactos: 

  • Conexão intergeracional- quando uma pessoa idosa (muitas vezes o convidado, ou convidada é alguém mais velho da comunidade) retoma sua própria vida ao ser estimulada pelas perguntas dos alunos, torna-se outra pessoa para seus interlocutores. Torna-se uma pessoa. Os sonhos de infância, as brincadeiras, os castigos escolares, a cidade e todas as experiências narradas levam os alunos, de forma a “descobrirem” as transformações no tempo. Cria um interesse real pela pessoa e transforma seus olhares sobre outras gerações.
  • Revisão do fazer histórico – os personagens históricos são seres distantes e abstratos. Presentes em nomes de rua, nomes da escola e nas narrativas dos livros didáticos tornam-se quase que objetos ”inanimados. A experiência de descobrir a história de um lugar por meio da escuta de uma pessoa comum é altamente reveladora. Traz a história para a realidade presente e transforma os alunos e professores em autores de novas narrativas históricas. Torna-os produtores de conteúdo e faz com que o entorno e as pessoas que o compõem (incluindo os membros da própria família) sejam valorizados. Esta percepção transforma o olhar que a escola tem acerca de sua comunidade e transforma os alunos que percebem novas formas de construir as memórias de seu entorno. 
  • Democratização da memória e o valor das pessoas – quando começamos este projeto encontramos, nas escolas, uma série de iniciativas de registro de histórias muito interessantes. Muitas festas populares eram pesquisadas e as entrevistas com “personagens” da sociedade local que dominavam estes saberes já era, em muitos lugares, uma prática adotada por professores. No entanto, o programa memória local na escola tem o firme propósito de fazer com que alunos e professores percebam e valorizem as histórias das pessoas, independente das categorias que elas possam representar socialmente.  As pessoas não são apenas informantes ou representantes de fatos, festas, saberes. A transformação se dá quando se consegue olhar o outro por si mesmo. Perceber o que ele tem de único e descobrir como ele vive e dá significado à sua condição social e ao seu tempo histórico. Por isso, cada turma entrevista uma única pessoa. Por isso os roteiros de perguntas são construídos com base nas curiosidades das crianças e com o firme propósito de serem “roteiros” de viagem. Uma “viagem” pela vida e pelo olhar do outro. Isso transforma o olhar. Isso amplia o respeito e provoca a curiosidade, uma qualidade valiosa que deve ser estimulada na escola.

2.4.3 Memória Local na Escola

Desde 2001, o Instituto Museu da Pessoa busca parcerias com as redes de educação e ensino, por compreender a comunidade escolar como um potente canal de relacionamento com as comunidades onde estão inseridas. 

O Museu da Pessoa já realizou atividades educativas, através de parcerias com SME em mais de sessenta municípios, com comunidades, grupos de moradores e líderes comunitários. Para a atuação em escolas, o programa Memória Local na Escola tem sido pautado pela promoção do diálogo Escola–Comunidade. Nas instituições educacionais a memória constitui poderosa ferramenta de transformação das relações. Escola e Comunidade se envolvem e revelam para si mesmas e para a sociedade a cultura local com o registro e a divulgação das histórias de vida de moradores da localidade.

Após anos de atividade, o programa Memória Local na Escola é uma referência metodológica na formação de professores, de construção de novas práticas de ensino de história, de pesquisa da história da comunidade.  

O Museu da Pessoa realiza a formação continuada de professores e alunos do ensino fundamental em encontros mensais presenciais, na cidade onde o projeto está sendo realizado. Os professores aprendem a organizar sua prática pedagógica para a realização do projeto com os alunos. Os estudantes aprendem a ouvir, registrar e a divulgar histórias de vida dos moradores de suas cidades com textos e desenhos. Toda a produção pode ser disseminada em uma exposição em um espaço público, em um livro artesanal e em uma coleção virtual na plataforma digital.

Memória Local na Escola é um programa que transcende a própria disciplina de história e as outras práticas pedagógicas. É um programa que tem o potencial de transformar valores de todos aqueles que compõem a comunidade escolar.

2.4.4 Todo Lugar tem uma História para Contar

Uma iniciativa para a disseminação da Tecnologia Social da Memória para a mobilização de agentes e líderes locais, a realização de diagnóstico sociocultural, a realização de projetos da história de uma localidade. 

O objetivo principal do projeto é produzir histórias de uma determinada localidade contadas por moradores locais que tiveram um papel importante na construção da cidade. Visa, além de divulgar as histórias, promover o reconhecimento dessas pessoas que tiveram uma contribuição significativa para o crescimento socioeconômico, político e cultural da localidade ao longo dos anos.

Com a formação continuada e realizada em no mínimo 40 horas, as lideranças ou grupos locais definem o projeto, a memória que querem registrar, as fontes e os produtos; realizam entrevistas, editam os registros e decidem onde e para quem vão divulga-las.

2.4.5 Produção de Materiais Educativos

O Museu da Pessoa produz livros e roteiros educativos para educadores. A intenção é orientar, sugerir, trocar e apresentar possibilidades de uso do acervo.  Esses materiais são elaborados por formadores e historiadores que fazem a curadoria das histórias a partir de um tema ou projeto, são olhares sobre o cotidiano, sobre a micro história.   

É nesse universo plural e híbrido trazido por muitas de pessoas que os materiais educativos se desenvolvem como norte, longe da pretensão de modelo, e têm como base a concepção de que todo indivíduo possui sua experiência, atua em determinado contexto, e que é, pode e deve também ser um pesquisador. 

Os materiais são físicos ou virtuais, acompanham um livro de histórias de vida ou são publicados na plataforma digital para que o internauta ou educadores se utilizem dele para explorar, pesquisar, refletir ou criar suas próprias coleções.

2.4.6 Cursos de formação

Com o objetivo de promover a disseminação da Tecnologia Social da Memória – conceito e metodologia, o Museu da Pessoa oferece cursos, oficinas e workshops para as pessoas, escolas, comunidades, organizações da sociedade civil e empresas de locais, perfis e trajetórias diferentes que queiram construir, organizar e socializar histórias de vida, valorizando assim as experiências e os saberes das pessoas e grupos envolvidos.

São cursos atividades, que possibilitam a sensibilização, a apropriação e a aplicação da metodologia para a produção, organização e divulgação de histórias. Podem ser a distância, presenciais ou semipresenciais. Cada modalidade tem uma estrutura fixa que procura garantir o contato com os conceitos e fundamentos da tecnologia social da memória, uma experiência de produção de história, tratamento e de disseminação do conteúdo e reflexão sobre as transformações provocadas pela prática. 

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