O Museu da Pessoa é pioneiro na medida em que aliou a nova museologia social e a inovação tecnológica (museu digital) às histórias de vida. Um museu com um acervo de depoimentos orais não é uma novidade, pelo menos no Brasil. Entre as décadas de 60 e 80 do século XX proliferou a criação de museus da imagem e do som em todo o Brasil. Estes museus, na sua maioria ligados à autarquia local (prefeitura ou mesmo governo estadual), foram criados com objetivo de preservar as histórias de grandes figuras da cultura local.
A maioria desses museus trabalha com depoimentos orais de personalidades ligadas à música, literatura, cinema e fotografia. Além da criação de museus com enfoque nas histórias de vida, houve a proliferação do uso da história oral pela academia nos anos 70, mas sempre em projetos esparsos, sem conexão entre si. O que é mais comum nos museus é a utilização de depoimentos de histórias de vida como uma documentação complementar aos objetos do acervo.
No Museu da Pessoa as histórias de vida são o seu próprio acervo. Mais do que musealizar pessoas, o foco é musealizar suas histórias, seus gestos e suas visões de mundo. A ideia de um “Museu” aberto, construído em rede, e que permitisse, da forma mais ampla possível, a participação do público como criador de seu acervo levou o Museu da Pessoa a repensar conceitos de espaço, preservação e acervo.
Espaço
Narrativas são objetos intangíveis por sua própria natureza. O acervo do Museu da Pessoa é constituído por estas narrativas complementadas por imagens do acervo pessoal de cada um de seus entrevistados. Neste sentido é que se pensou, desde a origem, na constituição de um acervo digital que, com o advento da Internet, tornou-se uma plataforma digital, a casa do Museu da Pessoa.
Preservação
O Museu da Pessoa combina algumas práticas tradicionais de preservação (cópia de mídias, manutenção da coleção em clima controlado etc) com o objetivo permanente de garantir a reinserção dessas memórias no cotidiano. Nosso maior desafio em termos de preservação é identificar e estimular o uso amplo e contínuo das histórias de vida: quanto mais presentes essas histórias estiverem em publicações, programas de rádio e TV e salas de aula, por exemplo, mais efetivamente podemos garantir não só a preservação física, mas, mais importante, o uso e reutilização de seu conteúdo.
Acervo
O acervo do Museu da Pessoa é composto por um conjunto de histórias produzidas a partir de memórias individuais (em textos, áudios, vídeos). Estas histórias podem contar a trajetória de vida da pessoa ou apenas uma pequena passagem que faz parte desta trajetória. O acervo do Museu da Pessoa permite o contato com a história de uma pessoa ou com um conjunto de histórias, imagens, documentos e objetos. O cruzamento destes conteúdos é uma fonte de reflexão e análise que responde às perguntas daqueles que utilizam este acervo. As perguntas podem derivar de uma curiosidade, de um interesse particular, de uma pesquisa, de um trabalho pedagógico, da necessidade de composição de uma obra de arte. As buscas no acervo devem responder à estas perguntas.
Este conjunto de histórias, imagens, documentos e objetos permite várias leituras sobre o acervo e acaba por compor uma fonte de memória coletiva. Memória esta que, no caso do Museu da Pessoa, é fragmentada, incompleta e diversificada tanto no tipo de mídias de suporte quanto nas formas e contextos de produção das histórias.