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Considerações Preliminares

A discussão sobre constituição, organização, gerenciamento e preservação de acervos em suportes analógicos, magnéticos e digitais, denominados inicialmente de videotecas, midiatecas ou acervos multimídia tem ocupado profissionais da área nas últimas duas décadas.

O enfrentamento cotidiano destas questões tem desenvolvido práticas em ensaios e erros, que demandam tempo de observação, de uso, acessibilidade e longevidade, bem como a constante atenção às novas tecnologias.  

O Museu da Pessoa, considerando o conhecimento acumulado em seus 27 anos de existência, compõe sua primeira versão estruturada de uma política de descarta, ainda que atento à necessidade de correções e atualizações periódicas.

O papel de polpa de madeira química possui uma constituição essencialmente ácida, que leva à um lento e progressivo processo de autodestruição ao longo de 100 ou 150 anos.

A possibilidade da migração do conteúdo de suportes analógicos para o suporte eletrônico ganhou novas perspectivas com o vídeo digital, renovando expectativas de que, em um futuro próximo, o armazenamento das mídias originais seria desnecessário.

A instabilidade destes meios corrobora esta teoria. Películas de nitrato são instáveis e gradualmente decompõem-se. Filmes coloridos desbotam e perdem sua harmonia e equilíbrio cromático causados pelas reações químicas entre as três substâncias básicas de coloração. As fitas de vídeo MiniDV tem vida útil limitada, principalmente devido à desmagnetização natural, umidade e mofo.

Paul Conway afirma que “a preservação no universo digital descarta toda e qualquer noção dúbia que entenda a preservação e acesso como atividades distintas”. Sendo assim, uma eficaz atividade estratégica de recuperação da informação é a mais importante para que a digitalização possa ser considerada uma atividade de preservação. Esta estratégia deve ser bem estruturada, classificando e indexando bem as informações digitais. Uma base de dados que não esteja bem estruturada pode resultar numa grande quantidade de informações amorfas que contribui para o empobrecimento da manipulação dos dados digitais.[1]

Em sua dissertação de mestrado sobre memória e patrimônio, a pesquisadora Silvia Ramos Gomes da Costa utiliza a teoria das ondas de destruição dos meios audiovisuais para exemplificar a questão da efemeridade da tecnologia e o desafio que estas questões geram para a preservação destes documentos. Segundo a pesquisadora, há certo receio por parte de estudiosos de que a virada para o meio digital haveria de desencadear a quarta onda de destruição.

De acordo com Costa, para organizações com este tipo de documentação é impensável pensar seu armazenamento separados de “uma prática cotidiana de descarte”[2]. A instabilidade destes suportes, exige “ações permanentes de transferências do conteúdo para contratipos, másteres, cópias, matrizes eletrônicas, visando postergar ao máximo a perda total de qualquer informação”, tornando as práticas de preservação sobre estes objetos bastante similar à de um artefato arqueológico, lidando com eles como se fossem ruínas em via de desaparecer. Para Costa, “esses materiais estão sempre em processo de desaparecimento, ao mesmo tempo em que provocam ações de conservação. As ondas de destruição, como narrativas realistas e baseadas em fatos históricos, são histórias de apropriação contadas principalmente por arquivistas audiovisuais, com o propósito de construir identidades para o cinema com ênfase na perda e por ações de persistência: colecionar, conservar, restaurar e exibir obras e objetos”[3].

Para suportes baseados em fita magnética a expectativa de vida, segundo dados de fabricantes, seria de cerca de 30 anos, incluindo as fitas de vídeo e áudio. Segundo Van Bogart, estas estimativas para meios de armazenamento, contudo, são similares aos índices de quilômetros por volume de combustível para automóveis: sua quilometragem real pode variar.  O estudioso aponta estudos sugerindo que a expectativa de vida de meios magnéticos é bastante inferior ao que se pensava, de, pelo menos, 10 a 20 anos.[4]

Soma-se a isso o fato de que os dados de computador dependem de complexos sistemas de hardware e software de rápida obsolescência tornando-se uma ameaça constante de perda de acesso aos acervos. Além disso, serviços de armazenamento na nuvem que gerenciam e operam o armazenamento físico de dados é ainda bastante oneroso do ponto de vista financeiro.

Uma alternativa mais viável são as mídias LTO. Desenvolvidas a partir de um consórcio entre as principais empresas do ramo, IBM, HP e Seagate, as fitas LTO (Linear Tape-Open) são uma tecnologia de armazenamento de dados em fita magnética desenvolvida na década de 1990 como uma alternativa de padrões abertos a formatos proprietários de fita magnética que estavam disponíveis na época. Cada fita LTO possui expectativa de vida de 15 a 30 anos.

Esse formato de armazenamento é o formato mais barato para o armazenamento de dados, e é ideal para conservar arquivos por longos períodos de tempo e que não são usados com muita frequência. Além da questão financeira, a LTO proporciona maior vantagem por conta da densidade de dados armazenáveis e de prever a obsolescência do suporte: a capacidade de armazenamento desses produtos dobra a cada geração (atualmente está na LTO-8) e os drives de leitura são capazes de acessar até duas gerações anteriores.

Já em 1939, o arquivista Binkley, defendia que “o objetivo da política de arquivos em um país democrático não pode ser a simples guarda de documentos. Deve ser nada menos que promover o enriquecimento da consciência histórica dos povos como um todo.”

Sistemas de fluxo de trabalho (do inglês, workflow) permitem a gestão controlada de atividades complexas, documentando procedimentos, acompanhando a execução das tarefas e emitindo relatórios de status dando condições para a longevidade digital.[5]


[1] CONWAY, Paul. Preservação no Universo Digital. Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos – CPBA. 2001. Rio de Janeiro

[2] COSTA, Silvia Ramos Gomes da. As ondas de destruição: a efemeridade do artefato tecnológico e o desafio da preservação audiovisual. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

[3] Idem.

[4] VAN BOGART, John W. Magnetic Tape Storage and Handling: A Guide for Libraries and Archives. Washington, D.C.: Commission on Preservation and Access, 1995. Disponível em: http://www.clir.org/pubs/abstract/pub54.html. Acessado em maio de 2018.

[5] VAN BOGART, John W. Magnetic Tape Storage and Handling: A Guide for Libraries and Archives. Washington, D.C.: Commission on Preservation and Access, 1995. Disponível em: http://www.clir.org/pubs/abstract/pub54.html. Acessado em maio de 2018.

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