Existem muitos gêneros de discurso em uma narrativa de vida. Nela estão presentes muitas histórias temáticas, descrições, comentários, avaliações, além de muitas repetições, interrupções, exclamações e silêncios. Quando se edita uma narrativa de vida se pode optar por:
- Editar uma das histórias da narrativa.
- Organizar a narrativa de vida como um todo de maneira a torná-la uma história mais coesa e impactante.
As duas formas de edição são possíveis e a opção por cada uma delas se dá seja pelo objetivo da edição, seja pelo tipo de público que se pretende atingir, seja pelo suporte escolhido. No entanto, é fundamental que o centro da edição seja uma história. Mas o que diferencia uma história dos outros tipos de discurso?
O que caracteriza uma história?
Existem muitos estudos que tratam do que podemos chamar de gramática das histórias. Alguns pesquisadores, como o psicólogo Jerome Bruner ou os sociolinguistas William Labov e Joshua Waletzk (todos norte americanos) estudaram a maneira como as narrativas de vida criavam modelos mentais que davam suporte para as experiências pessoais. Em resumo, podemos apresentar os seguintes pontos:
- Uma história implica em transformação de algo ou de alguém,
- Para que esta transformação ocorra, é necessário que haja uma ruptura, um movimento, algo que se transforma ao longo da narrativa,
- Na introdução, na extrodução e na avaliação é que, em geral, entendemos a perspectiva do narrador,
- A história possui uma coesão, ou seja, o acontecimento refere-se a algo ou alguém que se mantém e se transforma ao longo da história,
- A história possui um objeto central (pode ser uma pessoa, um objeto animado ou inanimado, um sentimento, uma reflexão)
Quanto às características específicas de uma narrativa de vida, podemos afirmar que:
- Uma narrativa de vida possui muitas histórias que são articuladas segundo a perspectiva do narrador no momento em que a produz;
- Existem muitas formas de se organizar uma narrativa de vida: cronológica, tematicamente, a partir de uma única faceta do protagonista, ou na identificação de qual o “plot” daquela pessoa.
- Quando constrói sua narrativa, a pessoa explicita uma trama que a envolve ou envolveu ao longo da vida: a relação com a mãe, uma culpa, uma busca por um determinado amor, a procura por uma identidade.
- Uma boa edição de narrativa de vida é identificar o plot/ a motivação/ a questão que move ou moveu aquela pessoa e procurar , a partir daí, articular as partes da narrativa que podem traduzir esta questão de maneira surpreendente.
- Uma história não é uma informação. Ela implica em escolhas, justificativas, seleções e julgamentos que a pessoa faz sobre si mesmo e sobre os outros. Utilizar estes olhares da pessoa é o que humaniza a história e o que é capaz de torná-la interessante ou de causar empatia com os outros. Quando a narrativa é puramente informacional, ela perde o interesse do público.
- As histórias não são exemplos ou representações históricas de um personagem. Quanto mais únicas, singulares e menos gerais elas forem, maior o impacto humano podem causar.